Eventos Espíritas Pagos. Sim, Senhor
Marcelo Henrique Pereira (*)
Leio, com muita atenção, mas já sabendo, antes mesmo de iniciar a leitura, qual é a proposta do texto. São os mesmos, que vez ou outra aparecem para declinar do alto de sua sabedoria o que os outros devem fazer, prescrevendo-lhe condutas. E, em muitos casos, até, fazem citações de textos bíblicos ou passagens evangélicas contidas nas obras espíritas para “fundamentar” seus “pareceres”.
Pois bem...
Trata-se, amiúde, do protesto (?) contra eventos pagos. Dizem que a tendência é para a elitização do Espiritismo, para a ganância e para o lucro!
Falácias...
Primeiro, há de situar as distinções entre os eventos. Há as atividades cotidianas das casas espíritas, onde a frequência é livre e sem o pagamento de qualquer valor, a título de taxas. Há, também, as atividades especiais, com programações específicas sobre temas de grande interesse ou trazendo-se companheiros de outras cidades, ou Estados. Na maior parte das vezes, estes também são eventos gratuitos, dada a abnegação do expositor, coordenador ou facilitador que sai de sua cidade às suas expensas, sem requisitar qualquer ajuda para o combustível, passagens ou estadia. Em alguns casos, dadas as condições peculiares da instituição promotora, é oferecida ao convidado alguma de custo ou é oferecida a hospedagem seja em hotel, pousada ou na casa de algum companheiro. Tudo muito salutar e válido!
Eu mesmo, na grande maioria de minhas “viagens espíritas”, nada exigi, cobrei ou solicitei das entidades que me convidam. Em alguns casos, elas mesmas é que já providenciam, aqui ou ali, a hospedagem, um jantar, um café... Situações de carinho e hospitalidade que encantam e aproximam, mas opcionais e conformes à condição peculiar de cada grupo ou instituição.
Mas, daí a generalizar e vir com a “conversinha fiada” de que devemos praticar o espiritismo com total desprendimento, que o Mestre Jesus (!) nada cobrou de quem o procurava e ouvia, que devemos “dar de graça o que de graça recebemos”, que não devemos mencionar as qualificações profissionais ou educacionais do palestrante, convidado, é de uma infantilidade e despropósito acima de qualquer bom senso e razoabilidade.
Ora, meus amigos... Até parece que essa “gente” não conhece COMO se faz um evento espírita. Principalmente, nos tempos atuais em que se busca a excelência e a qualidade total na difusão da mensagem espiritista. Se se trata de um evento “menor”, com menos amplitude em termos de participantes, sendo realizado em algum ambiente espírita ou espaço cedido pelo poder público, evidentemente os custos serão menores. Mas eles existem!
Em outros casos, em que se pretende alcançar um público maior, inclusive os não-declaradamente espíritas, os simpatizantes, realizados em centros de convenções, hotéis ou auditórios de instituições privadas, ter-se-á um custo agregado com o aluguel, a limpeza e os detalhes operacionais relativos ao local escolhido.
Vamos exemplificar alguns dos custos, em homenagem à lógica e à informação:
- Despesas com a infraestrutura (local alugado, acomodações, instalações, som e imagem);
- Despesas com a presença dos palestrantes (transporte, hospedagem, traslados);
- Despesas com a publicidade do evento (antes, na forma de cartazes, folders, outdoors e similares);
- Despesas para o conforto dos participantes (acomodações, banheiros limpos, coffee-break e outros).
Esta lista, evidentemente, não é exaustiva e pode compreender outras necessidades, como a contratação de pessoal especializado (mestre de cerimônias, cobertura jornalística, garçons e outros), tudo para o melhor cuidado com os presentes, seu conforto e bem estar.
Daí vem os zelosos companheiros insinuar que há cobrança de taxas e isto é contrário ao “espírito” da Doutrina dos Espíritos?
Se tivermos benfeitores e abnegados companheiros que possam fazer doações ou assumir encargos, excelente! Mas, se não o tivermos, e quisermos realizar um evento “de nível”, que seja um espaço importante de interlocução das ideias espíritas na Sociedade, temos que nos preparar adequadamente e empreender todos os esforços para que o evento seja, realmente, um sucesso!
E aí, meus amigos, como costumamos dizer e ouvir em eventos profissionais, em nossa área de atividade, “não existe almoço grátis”. Sim, é isso mesmo! Se um amigo seu o convida para ir à casa dele e lhe oferece um almoço, um jantar, um café, ele está bancando, ou seja, se responsabilizando pelos custos. Você é o convidado. Mas saiba que o que ele lhe oferecer terá um custo, serão realizadas despesas.
E, cá entre nós, está na hora de superar a condição espírita do escorpião no bolso. Aquela conduta usual do espírita que, ao ser chamado ou convidado para colaborar, evita colocar a mão no bolso, para não ser picado pelo escorpião que lá está! Esta figura de linguagem é para demonstrar que já passou da hora de nós nos convencermos de que precisamos, na medida das nossas possibilidades, colaborarmos com a instituição espírita que frequentamos, com a entidade que promove um bom e oportuno evento, com a instituição que publica um jornal ou revista, com as associações espíritas que realizam relevantes trabalhos na área da educação, assistência social, saúde e espiritualização do planeta.
Já passou da hora de queremos tratar a vida material, com todas os seus condicionantes e quadrantes como “secundária”, achando que “já estamos no Plano Invisível”. Vamos ser espíritas, vamos propagar a Boa Nova, vamos divulgar o Espiritismo, mas vamos, com muita franqueza e oportunidade ABRIR A MÃO e colaborarmos com as taxas para participação de eventos espíritas, porque muitos estão se esforçando e empreendendo gastos consideráveis para receber você, seus amigos de Centro, sua família, e lhe oferecer a informação, o consolo, o esclarecimento, o entretenimento espírita que serão muito úteis à sua trajetória.
Então, SIM, sim mesmo aos eventos espíritas pagos, quando for necessário para que ninguém, em termos cristãos e espíritas – como muitos desses gostam de dizer – saia em prejuízo!
(*) Marcelo Henrique Pereira, Doutorando em Direito, Secretário Executivo da ABRADE, Assistente da Vice-Presidência de Cultura e Ciência da Federação Espírita de Santa Catarina.
Fonte: A ERA DO ESPÍRITO